06/11/2013

Padeira de Aljubarrota, de Maria João Lopo de Carvalho (opinião)


Opinião:
Reza a lenda: “Brites de Almeida, a Padeira de Aljubarrota, foi uma figura lendária e heroína portuguesa, cujo nome anda associado à vitória dos portugueses, contra as forças castelhanas, na batalha de Aljubarrota (1385). Com a sua pá de padeira, teria morto sete castelhanos que encontrara escondidos num forno”.

Gosto imenso deste género literário, histórias de pessoas de épocas passadas, e esta narrativa conta-nos a vida de uma mulher que nasceu no Algarve,  no lar de uma família humilde, pobre, que exploravam uma taberna,  pessoas que foram pais tardios, e que precisavam de alguém de preferência um filho varão para os ajudar,  mas, quis a sorte que fosse uma menina, que à nascença ficou logo marcada pela sua fealdade, tudo nela era feio, olhos, nariz, boca até o cabelo, como se não bastasse e nasceu com uma deformação física, em cada mão tinha seis dedos, que naquele tempo deformações diziam ser sinal do diabo. Nunca foi aceite pelas pessoas na aldeia. Mas esta mulher revelou-se ser muito forte e corajosa, além de corpulenta, e com aspecto e força de um homem fazia trabalhos que outras mulheres não o conseguiriam nunca fazer e tinha um dom manejava a massa e fazia pão como ninguém. Teve que se desenvencilhar sozinha muito nova, quando perdeu os pais.
A autora agarrou na história de Brites de Almeida  e em paralelo na história de Beatriz de Portugal, filha do Rei D. Fernando e de D. Leonor de Teles, e em capítulos intercalados conta-nos factos baseados na vida de ambas.
Só que não podiam ser mais diferentes como é óbvio, a padeira Brites sem instrução, pobre e feia passou por muitas vicissitudes na vida, mas era uma mulher destemida, aventureira, que teve de se defender da melhor forma dos perigos que a cercavam e lhe apareciam pelo caminho tão comuns a uma mulher sozinha, apesar de esconder o corpo nas vestes de homens, foi parar a uma certa e determinada altura da sua vida a Espanha onde esteve prisioneira, vivendo como escrava, voltando a Portugal andou fugida da sua terra devido a actos que praticou, pois era rebelde, desordeira, até ficar em definitivo em Aljubarrota onde teve sucesso como padeira.
Já Beatriz além de muito bonita,  foi instruída para ser rainha sob a influencia de sua mãe D. Leonor Teles, que na altura tudo fazia pata aliar-se a Inglaterra, Beatriz demonstrou ser uma menina inteligente, mas não tão submissa quanto a sua mãe o desejaria, contrariando muitas vezes as ordens que lhe davam. Aos dez anos foi dada em casamento a D. Juan de Castela, com 24 anos, como era normal na altura. Ambas partilhavam algo mas sem saberem, o amor pelo mesmo homem, que tem o seu destaque ao longo do livro.
Também Inês de Castro que mandaram assassinar é mencionada, mas a atenção é para os seus quatro filhos e para o irmão destes, e as suas relações e rivalidades. O Rei D. Fernando que estava a morrer governou o país debaixo de uma enorme crise, Portugal e a Europa atravessavam graves problemas, fome, doenças, pobreza, somos levados para dentro das cortes com todo o rol de intrigas e conspirações tão comuns na altura, no meio disto tudo a iminência da guerra que assolou Portugal.
Gostava que autora tivesse explorado a valentia da padeira quando supostamente ajudou a salvar o nosso país, mas a autora explorou o seu lado pessoal, enquanto pessoa e as suas aventuras enquanto mulher que à partida tratando-se de uma lenda ficamos sempre com a dúvida será que existiu ou não, não deixa no entanto de ter sido uma personagem muito corajosa.
Envolvente logo de inicio, com uma história cativante sobre duas personagens femininas que se destacaram pela sua personalidade forte, numa época que me fascina, e que a autora conseguiu descrever tão bem, mulheres essas pelas quais senti empatia, com capítulos curtos que tanto gosto,  foi uma leitura muito agradável, um livro muito giro, que recomendo aos amantes do género.


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