20/05/2012

O MONSTRO DE FLORENÇA, UMA HISTÓRIA VERDADEIRA

Opinião:
Quando Douglas Preston chegou a Florença para começar a trabalhar no seu novo romance, nunca pensou que os seus planos se alterassem tão repentinamente. Tinha pensado escrever um policial sobre o desaparecimento de um quadro famoso e muito antigo tendo como pano de fundo a bela cidade de Florença, o berço do renascimento. Para iniciar o seu trabalho de pesquisa, precisava de saber como funcionavam as forças policiais italianas. Assim, foi aconselhado a contactar Mário Spezi, repórter criminal do jornal La Nazione com uma vasta experiência sobre o assunto. No meio de uma das suas conversas, Douglas Preston ficou a saber que o local onde ficara a residir era famoso por diversas razões, uma das quais por ter sido lá perpetrado um crime. Curioso, quis saber mais acerca desse crime e Mário Spezi explicou-lhe que se tratava de um dos duplos homicídios do chamado “monstro de Florença”, baptizado assim pelo próprio Mário Spezi que tem seguido o caso desde o princípio, há já mais de duas décadas. O monstro de Florença é um assassino em série que nunca foi encontrado e o caso constitui o mais longo e dispendioso processo da justiça italiana. À medida que fica a conhecer a história em pormenor, Douglas Preston fica tão fascinado pelo caso que propõe a Spezi escreverem um livro sobre o monstro de Florença. Esse livro é a procura de ambos pela verdade num caso que atingiu proporções inimagináveis: Douglas Preston foi acusado de diversos crimes, desde perjúrio a obstrução da justiça e Mário Spezi foi acusado de ser o próprio monstro de Florença, tendo mesmo sido preso.

O que posso dizer deste livro é que é viciante, é um policial que não se consegue para de ler e ainda por cima baseado em factos verídicos e em que os autores são arrastados para a própria história. A primeira parte é um relato cronológico e uma descrição detalhada dos crimes. Mário Spezi foi o primeiro jornalista a tomar conhecimento do caso e chegou mesmo a estar em alguns locais do crime sem que lhe fosse barrado o acesso. De referir que estamos longe da era CSI, não havia exames de ADN e os locais do crime não eram devidamente isolados. As próprias forças policiais italianas, a polícia e os carabinieri competem entre si para ver quem fica com os louros o que faz com que a própria investigação saia prejudicada. A um nível mais elevado temos os juízes e procuradores à procura da ascensão na carreira ao invés de procurarem a verdade em si.

Entre 1974 e 1985 foram levados a cabo uma série de sete duplos homicídios. O modus operandi era sempre o mesmo: o assassino atacava de noite e os seus alvos eram casais em carros estacionados nas colinas em redor de Florença à procura de privacidade. No momento em que estes se encontravam mais vulneráveis eram abatidos a tiro, primeiro o homem, depois a mulher. Seguidamente, o assassino arrastava a mulher para fora do carro e mutilava-a.

A crescente pressão dos média e da população em geral fez com que a polícia tentasse apresentar resultados a todo o custo. A brutalidade dos crimes levou a população a um estado de histeria tal que foram investigados mais de cem mil indivíduos. Vidas e carreiras são destruídas devido a denúnicias, na sua maioria infundadas. Suspeitos são presos mas libertados passado pouco tempo em virtude de o monstro ter voltado a atacar. Um crime anterior, cometido em 1968 parece estar ligado aos do monstro de Florença, foi provado que a arma do crime é a mesma. Porém este crime está resolvido e o autor confesso foi preso e condenado. Como foi possível então que fosse utilizada a mesma arma? Spezi estava convencido que, se a arma fosse descoberta, o monstro seria apanhado…

A investigação muda de rumo consoante as mudanças de procuradores e investigadores e chega a seguir um caminho de todo impensável: o monstro de Florença tem vários cúmplices que praticam os crimes por encomenda e a mando de pessoas importantes da sociedade florentina que participam em rituais satânicos!

O ponto alto do livro é, sem dúvida, a entrevista com a pessoa que os autores acham que é o monstro de Florença. Quando estão prestes a acabar o livro e quando a sua publicação está para breve, surgem os problemas. Como a linha de investigação deles vai contra a da polícia, e como no seu livro desmontam a linha de investigação oficial, podemos dizer que compraram uma luta contra uma força poderosa. Douglas é acusado de vários crimes e vê-se obrigado a sair de Itália. A casa de Spezi é vasculhada e todos os seus documentos sobre o caso são levados pela polícia. É preso e fica na solitária durante cinco dias sem ter acesso ao seu advogado, medida excecional aplicada para crimes mais ligados à máfia italiana. Douglas, na América nem quer acreditar no que está a acontecer, o caso tornou-se ele próprio num monstro.

Este é um policial a não perder, baseado em factos verídicos. Diz-se que Thomas Harris baseou a personagem de Hannibal Lecter no Monstro de Florença.

Como diz Douglas Preston uma das características intrínsecas do mal é a sua incompreensibilidade.  

4 comentários:

Paula disse...

Parece bastante interessante :)

Odete Silva disse...

Tenho que ler este livro :)

Jaqueline da Silva disse...

ja estou lendo ,muito bom !

Anónimo disse...

e muito bom eu ja li ele uns dos melhores livros que ja li muito interessante